E já tem um tempo que tô olhando com fome pra esse pedaço branco de tela e querendo escrever sobre um monte de coisas que, na verdade, eu não sei o que são. Passo o dia lendo e ouvindo tanta informação, que às vezes me perco e não consigo filtrar tudo o que entra na minha cabeça.
Eu queria falar sobre política um dia, mas não entendo muito disso. Tenho uma visão a respeito de alguns pontos (como a educação, a saúde, o trabalho…), mas nada completamente formado.
Eu queria falar sobre moda, mas também não entendo muito disso. Não sei quais são as cores do próximo verão, os sapatos que deveríamos estar usando, nem que artigo não pode faltar no nosso guarda-roupas. Aliás, pra falar bem a verdade, eu não quero nem saber!
Eu queria falar sobre filosofia. Leio absurdamente muitos livros relacionados, que instigam, que te dão vontade de devorar todas as páginas no sentido literal da palavra “devorar” – só pra saber se causaria a mesma sensação de ansiedade de quando se está lendo-o. Eu queria falar sobre filosofia, mas parece algo tão perigoso de se falar – e tão pessoal -, que eu vou deixando anotado os trechos rabiscados no meu caderno.
Eu queria falar sobre crianças. Dizer que tenho a solução pro sofrimento daquelas que vivem na violência, na fome, na ignorância, na doença, na negligência, no desamparo. Mas acho que não tenho – até sonho com algumas possíveis alternativas, mas precisaria que os caras que deveriam estar pensando nisso também, me ajudassem a realizá-lo.
Eu queria falar de amor. Mas aí eu percebi que, sobre isso, o certo é parar de falar e começar a fazer, então eu já não quero mais falar de amor.
Eu queria falar de música boa. Mas aí eu percebi que “música boa” é um tema muito complexo e infinito pra se discutir, já que vai acabar num “o que é bom pra você, pode não ser bom pros outros” e cada um vai colocar o seu fone de ouvido e continuar indo pra onde ia.
Eu queria falar dos livros que li. Mas quando comecei a escrever, descobri que não sei fazer uma porcaria de uma resenha – poxa, como isso me deixou frustrada!
Eu queria falar sobre as coisas que gosto de fazer. Mas não teria graça, por que, de que adiantaria contar aqui se eu continuaria fazendo-as ‘sozinha’ e, provavelmente, isso não mudaria a vida de ninguém? Por exemplo, eu gosto de deitar na grama depois de caminhar. Ok. E aí?!
Eu queria falar sobre como fico INDIGNADA com os erros de português das pessoas. Gente, como alguém sobrevive a 8 anos de ensino fundamental e 3 anos de ensino médio sem aprender palavras básicas? É muito assustador isso. Sem falar na pronúncia. Não pelo “caipirês”, mas, como é que digo sem ser ofensiva ou preconceituosa?! Tipo aquelas pessoas que ouvem funk ou um “rap-baixo-augusta” (acabei de dar essa nomeação porque sei que o rap, ao contrário do dito cujo do funk brasileiro, traz bastante informação, além de ser um grito de protesto de algumas classes sociais): essas pessoas falam só metade das palavras, é quase impossível entender uma frase, que seja, que tenham dito. É mais ou menos assim:
– “É que nói tá tu co rai de polici poque só dá batida em neguin com bermu de flo.”
Cara! Como me dá nos nervos o ser humano que chega pra “conversar” comigo e fala desse jeito.
Eu queria falar de como eu devo ser uma pessoa solitária por passar o dia escrevendo frases de 140 caracteres ou menos que, simplesmente e absolutamente, não alteraria em nada o equilíbrio do universo se não fossem escritas. Mas não é solidão, é outra coisa que eu ainda tô descobrindo como devo chamar.
Agora, depois de meia hora, eu queria falar que já me sinto muito mais leve por ter escrito sobre o que eu queria falar.
Pronto. Falei.